Investir no ônibus não foi bom nem para o Rio, nem para os cariocas. Só foi bom para… as empresas de ônibus! E toda a vez que a sociedade tenta discutir a melhoria e abertura das contas do sistema, os empresários puxam o freio de mão e colocam o debate numa caixa-preta. Para se ter uma ideia, até hoje só eles sabem (e informam o que querem aos governos) quantos passageiros transportam por dia. Uma informação que é vital para definir o preço da passagem ou determinar os investimentos para melhorar o sistema fica só na mão dos empresários. Ou seja, a raposa tomou conta do galinheiro.
A mão deles continua firme nesse volante, principalmente, porque eles nunca deixam de fazer grandes doações às campanhas políticas de prefeitos e vereadores. Avançam o sinal, porque a lei proíbe doações de concessionários de serviços públicos, mas molhando a mão do guarda achavam que a multa nunca ia chegar. Só que, dessa vez, dormiram no ponto e perderam a viagem.
Uma grande operação da Polícia Federal desbaratou o cartel das empresas e prendeu seus principais “pilotos”. Estão trancados em Bangu, dentre outros, o presidente da poderosa Federação das Empresas (Fetranspor), Lélis Teixeira, e o empresário Jacob Barata Filho, “rei do ônibus”, investigados pelo suposto pagamento de R$ 500 milhões em troca de aumentos das passagens. De 1994 a 2015, enquanto a inflação foi de 400%, a tarifa disparou 1.000%, com todos os ganhos embolsados pelos empresários do setor.
A prisão desse pessoal abre espaço para um novo tempo. Agora, livre da pressão econômica das empresas, o povo tem a chance de escolher políticas de mobilidade mais responsáveis, que ajudem a cidade a se desenvolver com dignidade, conforto e tarifas justas para os usuários dos serviços. Para que possamos discutir, por exemplo, a transformação dos trens da Supervia em metrô de superfície, beneficiando moradores da Baixada, Zona Norte e Zona Oeste. Assim como a ampliação e melhoria do transporte aquaviário, fundamental para acelerar a locomoção entre a capital, Niterói, São Gonçalo e outras cidades no entorno da Baía de Guanabara. Sem falar no passe livre social nos transportes para desempregados, trabalhadores informais, estudantes de todos os níveis e beneficiários do Programa Bolsa Família.
Tá na hora de botar nos trilhos (e na água) o transporte do Rio.
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