- 6 de junho de 2025
- Publicado por: José Medeiros
- Categorias: Notícias CTB Nacional, Notícias CTB-RJ

Se você ainda não ouviu falar do tal movimento redpill, parabéns: isso diz muito sobre a qualidade do seu algoritmo e da sua saúde mental. Mas para quem está minimamente atento às redes — especialmente YouTube, TikTok e fóruns masculinizados da internet — o redpillismo é o novo refúgio de uma geração de homens perdidos entre o fim da dominação patriarcal e a dificuldade de lidar com mulheres que não aceitam mais ser tapete.
Vestidos de “realistas”, esses youtubers de voz grave e estética de coach existencial dizem estar oferecendo a verdade nua e crua. Só que, no lugar de análise social ou crítica política, entregam um caldeirão de ressentimentos reciclados, recheados de “ciência de boteco”, moralismo sexual e um bom toque de nostalgia das cavernas. Literalmente.
A “filosofia” da redpill: cromossomos, testosterona e teorias de barbearia
A base teórica? Uma mistura de Darwin mal digerido com manual do macho alfa comprado na Amazon. Para eles, a sociedade é governada por uma suposta “hipergamia feminina” (não é piada), que explicaria por que as mulheres não querem mais se casar com qualquer Zé que tem CPF. A saída? Segundo os “redpillers”, é se tornar um “macho de alto valor” — o que geralmente inclui:
# Ter músculos inflados (mesmo que pagos em 12x),
# Dinheiro (nem que seja de pix de seguidores),
# Desprezo por qualquer forma de sensibilidade.
Ou seja: a mesma cartilha de sempre, com efeito Instagram.
Do ressentimento à misoginia gourmet
Por trás da fachada de “autodesenvolvimento” mora um discurso misógino, violento e autoritário. As mulheres são tratadas como objetos de troca, classificadas por notas (sim, como em um cardápio de hamburgueria artesanal), e qualquer discurso de igualdade é chamado de “marxismo cultural” — esse espantalho tão amado por quem nunca leu Marx nem entende o que é cultura.
O redpill não é só uma bobagem. É uma forma de radicalização machista em tempos de crise, que se aproveita da solidão masculina e do colapso dos vínculos sociais para construir uma comunidade de ódio, ressentimento e autoritarismo. É o fascismo com anabolizante.
O retorno simbólico às cavernas
Os defensores da redpill querem nos convencer de que tudo era melhor quando o homem caçava e a mulher cuidava da caverna — ignorando que:
1. Nem na Idade da Pedra era tão simples assim;
2. Hoje, quem caça é o iFood, e quem limpa a caverna geralmente é uma mulher mal remunerada.
Trata-se de um desejo profundo de retornar a uma ordem autoritária onde o homem não precisava dialogar, entender, dividir tarefas ou respeitar. Uma espécie de “revolta dos medíocres”, travestida de filosofia.
Feminismo emancipacionista: o antídoto
Contra essa barbárie requentada, o feminismo emancipacionista — aquele que luta não só pela igualdade formal, mas pela transformação profunda das estruturas sociais — segue sendo a vacina mais potente.
Ele não busca inverter hierarquias, mas derrubar a ideia de que alguém precisa estar por cima para que a sociedade funcione.
Não queremos homens frágeis, envergonhados ou submissos. Queremos homens inteiros, conscientes, capazes de partilhar a vida — e não de competir num ringue imaginário onde o prêmio é o ego inchado e a solidão eterna.
Em vez de “tomar a redpill”, que tal tomar juízo?
Se você é homem, jovem, está confuso, frustrado, cansado do mundo — ótimo. Todos estamos. Mas cuidado com quem se apresenta como salvador oferecendo “a verdade” embalada em ódio e superioridade. Isso nunca acaba bem. Nem na ficção.
Porque no fim das contas, a verdadeira pílula libertadora não é a vermelha dos redpill.
É a pílula roxa da consciência social, da igualdade radical, da libertação de todos e todas de uma sociedade que nos amarra em papéis que só nos destroem.
Este artigo foi escrito com a bússola da militância engajada, com os pés na realidade e o coração na luta por uma sociedade mais justa, igualitária e, sobretudo, civilizada. As cavernas podem ficar para os fósseis. Nós, homens e mulheres, queremos futuro.
Carlos Lima, economista e dirigente da CTB-RJ e do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro