A Força Ancestral em Marcha: Pela Reparação e pelo Bem Viver das Mulheres Negras

Por Raimunda Leone

Secretária de Políticas e Promoção da Igualdade Racial da CTB 

A Marcha das Mulheres Negras é muito mais do que um evento; é a materialização de uma história de luta e resistência que se estende desde o tempo da escravização até os dias atuais. Nossas ancestrais, como Dandara, Luíza Mahin e Tereza de Benguela, foram líderes quilombolas e defensoras incansáveis da liberdade e do direito à vida digna. Esse legado de coragem e organização se manifesta hoje na força do movimento de mulheres negras no Brasil.

A primeira Marcha Nacional, em 18 de novembro de 2015, em Brasília, foi um marco histórico. Reunindo mais de 100 mil mulheres de todo o país sob o lema “Contra o Racismo e a Violência e Pelo Bem Viver“, ela pautou as demandas urgentes que historicamente nos atingem, como o genocídio da juventude negra, a violência racial e de gênero, a desigualdade no mercado de trabalho e o racismo institucional. Aquela mobilização demonstrou, com uma clareza inegável, a intersecção perversa do racismo e do machismo na vida da mulher negra, que carrega o peso das opressões de raça, classe e gênero.

A Marcha é vital porque coloca o direito à vida e à dignidade das mulheres negras no centro do debate nacional. Somos a base que sustenta famílias e comunidades, mas somos também as mais vulneráveis à violência e à falta de acesso a direitos básicos como saúde, educação de qualidade, moradia digna e justiça.

  • Visibilidade e Protagonismo: A Marcha rompe a invisibilidade e o silenciamento, reafirmando o protagonismo político das mulheres negras na construção de uma sociedade mais justa e democrática.
  • Interseccionalidade: Ela escancara que não há como falar de luta de classes e luta por direitos sem considerar a intersecção entre raça e gênero, sendo as mulheres negras as que mais sofrem com a precarização e a exclusão.
  • Pelo Bem Viver: Ao propor o “Bem Viver” como utopia, o movimento convida a sociedade a repensar um modelo de vida que não seja baseado na exploração, mas sim na equidade, na valorização da vida, da natureza e da cultura ancestral.

Em um contexto de constantes ameaças aos direitos conquistados e de persistente violência, a convocação para a próxima Marcha e para o engajamento contínuo nas pautas raciais e feministas das mulheres negras é um imperativo ético e político.

Não podemos permitir que a luta por Reparação Histórica e pelo Bem Viver seja silenciada. É hora de ampliar nossa voz e nossa presença em todos os espaços de decisão:

  1. Apoie e Participe: Una-se aos Comitês, redes e organizações que constroem a Marcha em seu território. Não é apenas sobre ir ao ato, mas sobre participar ativamente do processo de organização e incidência política.
  2. Lute pelas Pautas: Exija a implementação de políticas públicas que combatam o racismo e a violência contra a mulher negra, como o acesso à terra para quilombolas, o fim do genocídio da juventude negra e a equidade salarial.
  3. Vote e Decida: Fortaleça as candidaturas de mulheres negras nas eleições, garantindo que as vozes que realmente representam a maioria da população brasileira estejam nos parlamentos e nos governos. A luta por representatividade é fundamental para transformar a política.

Nossa caminhada é longa, mas a força ancestral que nos move é inabalável. O futuro que almejamos, de equidade e justiça, só será alcançado com a união e a persistência de todas. Nenhuma de nós estará livre enquanto todas as mulheres negras não estiverem!

A luta continua! Sigamos em Marcha!

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