Ana Paula Brito: “A Globo Contra os Direitos dos Trabalhadores: Um Histórico de Alinhamento com Interesses Patronais”

Ao longo de sua história, as Organizações Globo têm consistentemente se posicionado contra os direitos da classe trabalhadora, atuando como porta-voz dos interesses patronais em detrimento das conquistas sociais. Desde a defesa contra o 13º salário até o apoio fervoroso à Reforma Trabalhista de 2017, a atuação da Globo revela uma clara intenção de enfraquecer os sindicatos e desmantelar a proteção trabalhista no Brasil.

 

Em 1962, o Brasil assistia a um dos episódios mais emblemáticos do confronto entre a mídia e os direitos trabalhistas. O então jornal “O Globo”, principal veículo do conglomerado das Organizações Globo, publicou um editorial em que atacava duramente a proposta de criação do 13º salário, uma conquista histórica para os trabalhadores brasileiros. Na ocasião, o jornal argumentava que o benefício seria uma ameaça à economia e que resultaria em falências em massa de empresas.

 

Essa postura revela não apenas uma resistência à ampliação dos direitos dos trabalhadores, mas também um alinhamento claro com os interesses empresariais. A realidade, no entanto, mostrou o contrário. A implementação do 13º salário contribuiu para o aumento do poder de compra da classe trabalhadora, impulsionando a economia e fortalecendo o mercado interno. Mas o posicionamento da Globo naquele momento já delineava a sua agenda: defender os interesses do capital em detrimento dos direitos sociais.

 

Após a redemocratização, as Organizações Globo mantiveram seu alinhamento constante e uso cada vez mais abusivo do seu poder como mídia na defesa dos interesses patronais e das elites brasileiras. Um jornalismo que ao longo da história se notabilizou por criminalizar as formas organização e luta da classe trabalhadora e dos movimentos populares. Desde o ataque ao 13º salário até o apoio irrestrito à Reforma Trabalhista, a atuação da Globo sempre manteve uma agenda clara: enfraquecer os sindicatos e reduzir a proteção social no Brasil.

 

Foi nessa linha que, na década de 90, as Organizações Globo promoveram um  apoio contundente às privatizações, alinhando-se com agendas neoliberais para reduzir a presença do Estado na economia. Durante os processos de privatização ocorridos nas décadas de 1990 e 2000, especialmente no governo de Fernando Henrique Cardoso, a Globo defendeu a venda de estatais estratégicas, como a Vale do Rio Doce e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e não hesitou em atacar que se posicionava contra essas medidas. Os veículos do grupo retratavam essas privatizações como soluções necessárias para o crescimento econômico, ignorando ou minimizando as consequências sociais e os impactos negativos sobre os trabalhadores envolvidos nesses setores.

 

A Globo também acumula, ao longo a história, uma série de campanhas midiáticas de deslegitimação de greves e manifestações de trabalhadores. Em diversas ocasiões, o grupo utilizou seu poder de influência para retratar movimentos grevistas como prejudiciais à sociedade, ignorando as reivindicações legítimas dos trabalhadores por melhores condições de trabalho e salários dignos. Um exemplo emblemático foi a cobertura das greves dos petroleiros, onde a Globo frequentemente enfatizou os transtornos causados à população e omitiu as razões pelas quais os trabalhadores estavam em greve.

 

O alinhamento da Globo com interesses privatistas e contra greves reflete o compromisso central da emissora com a defesa do capital, em detrimento das necessidades e direitos dos trabalhadores. A manipulação da narrativa pública, por meio da desqualificação das lutas trabalhistas e do apoio irrestrito à privatização, sempre teve o objetivo de se criar um ambiente desfavorável à organização sindical e à proteção dos direitos sociais. Prática repetida em 2017 pelo jornalismo global e sua entusiástica jornada em defesa da aprovação da Reforma Trabalhista.

 

Usando de todos seus veículos para defender a Reforma como grande solução que modernizaria as relações de trabalho e geraria milhões de empregos, o conglomerado Globo ecoou o discurso do governo e do empresariado. Por trás dessa propaganda, no entanto, estava uma tentativa clara de enfraquecer os sindicatos e reduzir a proteção dos trabalhadores. O resultado desse processo todos conhecemos: a reforma foi aprovada e desmantelou uma série de direitos, não gerou empregos, facilitou demissões e, conseguiu  acabar com as fontes de financiamento das entidades sindicais.

 

O apoio da Globo à Reforma Trabalhista teve efeitos devastadores. Ao enfraquecer os sindicatos, a reforma resultou em um aumento da informalidade, na redução dos salários e na piora das condições de trabalho em diversas categorias. A propaganda enganosa de que a flexibilização das leis trabalhistas criaria milhões de empregos não se concretizou; pelo contrário, o que se viu foi um mercado de trabalho cada vez mais precarizado e trabalhadores cada vez mais vulneráveis.

 

A campanha midiática liderada pelas Organizações Globo desempenhou um papel crucial na aprovação da reforma, utilizando seu poder de alcance para moldar a opinião pública e criar uma falsa percepção de que a flexibilização era necessária para a retomada do crescimento econômico. Mais uma vez usando seu poder de mídia para beneficiar o capital, à custa da classe trabalhadora, como sempre fez ao longo da história e fez ontem ao atacar o Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro.

 

É fundamental que os trabalhadores estejam cientes desse histórico para que possam se organizar e resistir a novas investidas contra seus direitos. A defesa dos sindicatos é a defesa da própria dignidade do trabalho, e é necessário combater a desinformação e as campanhas midiáticas que visam enfraquecer a luta por condições de trabalho justas e dignas. A classe trabalhadora não pode se dar ao luxo de subestimar o poder da mídia e deve estar unida para enfrentar os desafios impostos por aqueles que buscam maximizar seus lucros à custa do sacrifício dos trabalhadores.

 

A Globo e os grandes conglomerados da comunicação apoiaram golpes de estado, auxiliaram perseguições políticas e não hesitam manipular e mentir  para dividir os trabalhadores e o povo ou tentar coloca-los contra seus próprios interesses e direitos. E por isso, ao longo da história, os Sindicatos e as eles quase sempre estiveram em lados opostos na luta de classes. Os compromissos dos sindicatos e movimentos populares são com os direitos trabalhistas, plena cidadania, democracia, soberania nacional, redução de desigualdades e melhorias para a vida do povo brasileiro. O compromisso da Globo e outros meios de comunicação são com o enriquecimento das elites, o lucro do patrão, a defesa do alto empresariado e a destruição de toda e qualquer legislação de proteção ao trabalhador e ao cidadão em estado de vulnerabilidade social. Que os trabalhadores nunca se esqueçam disso!

 

  • Ana Paula Brito é Secretária de Comunicação e Imprensa da CTB Rio de Janeiro e Vice-Presidenta do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro.
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