- 22 de maio de 2020
- Publicado por: CTB-RJ
- Categoria: Notícias CTB-RJ
A cura para a covid-19 ainda é distante. O Brasil, em meio aos desmandos e atropelos do governo federal, acumula recorde após recorde de mortes por dia em virtude do novo coronavírus e já superou a marca das 1.000 mortes por dia.
Enquanto os leitos se esgotam, empresas quebram e trabalhadores e trabalhadoras vivem as incertezas do amanhã, o Presidente da República segue intervindo no Ministério da Saúde para forçar o uso da cloroquina, mesmo com estudos atestando os riscos da medicação.
Enquanto o presidente se fixa na defesa do uso do remédio de eficácia não-comprovada, as vítimas da doença seguem se avolumando.
Atualmente, no Brasil, uma pessoa morre por covid-19 a cada 73 segundos. Isso quer dizer, mais ou menos, enquanto essa matéria é lida, cerca de 3 a 4 novas vítimas da covid-19 terão vindo a óbito no Brasil.
O Brasil, hoje, é o 3º país com mais números de casos confirmados da covid-19. São, até o fechamento dessa matéria, 310.087 casos confirmados, com 20.047 mortes. Somente Estados Unidos e Rússia totalizam mais casos confirmados do que o Brasil.
Em meio a tantas mortes, o Presidente segue com piadas e políticas que ignoram a ciência no combate ao vírus. A insistência pela reabertura das cidades e dos Estados contrasta com o momento vivido pelo país e pode levar o país a um colapso sem precedentes do seu sistema de saúde.
Fortalecer o SUS é o maior remédio contra a covid-19
É nesse sentido que não é a cloroquina, ou qualquer outro medicamento de eficácia ainda não-comprovada, que é a principal arma no combate a pandemia.
A maior arma do povo brasileiro para enfrentar esse vírus é o Sistema Único de Saúde.
Lidando com um vírus de alto índice de contágio, fortalecer os sistemas públicos de saúde consiste na principal medida para se enfrentar crises como a que vivemos.
No começo da Pandemia, o Presidente da França, Emmanuel Macron, reconheceu as limitações do neoliberalismo e citou o investimento público em saúde como uma das lições deixadas pela pandemia.
“O que revela esta pandemia é que a saúde gratuita sem condições de renda, de história pessoal ou profissão, e nosso Estado-de Bem-Estar social não são custos ou encargos mas bens preciosos, vantagens indispensáveis diante das vicissitudes do destino”- disse, o presidente francês, em seu primeiro discurso após o começo da pandemia.
No atual quadro de propagação do vírus, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta países europeus no mesmo sentido: defendendo o fortalecimento dos sistemas de saúde para enfrentar uma possível segunda onda do vírus no velho continente.
Segundo a entidade, o próximo pico de contágios corre o risco de ser ainda mais mortal, por coincidir com surtos de outras doenças infecciosas sazonais.
Para Hans Kluge, diretor da região européia da OMS, a hora não é de celebrar o relaxamento das medidas de isolamento, mas sim de preparação para o enfrentamento da próxima onda com o aumento da capacidade dos hospitais e fortalecimento dos sistemas de saúde pública.
No Brasil, as políticas ultraliberais de Bolsonaro e Guedes, somada a Emenda Constitucional 95, são obstáculos ao fortalecimento do SUS para melhor enfrentamento a pandemia.
Melhor do que qualquer cloroquina, fortalecer o SUS é o grande desafio dos brasileiros nesse momento, um desafio que não encontra eco nas decisões políticas do Governo Federal.
Por que a insistência na cloroquina?
Romper o isolamento social e instituir o uso da cloroquina desde o início do tratamento – contrariando todos os estudos científicos produzidos até aqui – são as grandes obsessões do governo de Jair Bolsonaro, indo na contramão do mundo no que tange ao combate à covid-19. Mas porque a fixação presidencial com essa medicação?
A Revista Carta Capital, em matéria publicada no último dia 16 de maio, nos trouxe pistas do porquê tanto se insiste em contrariar estudos científicos e ampliar o uso dessa substância de efeitos colaterais comprovados.
Segundo dados da revista, apenas duas empresas fabricam a cloroquina no Brasil: a SEM (que produz a versão genérica) e a Aspen, empresa cujo dono é um grande apoiador do governo Bolsonaro.
Além disso, por decisão presidencial, o Exército ampliou exponencialmente a produção de cloroquina saindo de 250 mil comprimidos da droga a cada dois anos para 1 milhão de unidades por semana.
O remédio vence em dois anos após a data de fabricação e os prejuízos podem ser enormes para os cofres públicos.
Segundo denúncia do ex-Ministro Luiz Henrique Mandetta, o Presidente chegou ao absurdo de tentar mudar a bula do remédio através de decreto presidencial.
“O presidente se assessorava ou se cercava de outros profissionais médicos. Eu me lembro de quando, no final de um dia de reunião de conselho ministerial, me pediram para entrar numa sala e estavam lá um médico anestesista e uma médica imunologista, que estavam com a redação de um provável ou futuro, ou alguma coisa do gênero, um decreto presidencial… E a ideia que eles tinham era de alterar a bula do medicamento na Anvisa, colocando na bula indicação para covid-19”, afirmou Mandetta a uma emissora de televisão.
A revista também alerta que o uso da droga sem amparo científico pode gerar outros prejuízos ao estado, como por exemplo, ações de indenização dos familiares dos mortos, ou dos sobreviventes com efeitos colaterais graves por conta do uso da substância.
*José Roberto Medeiros é jornalista da CTB RJ e de sindicatos no Rio de Janeiro