O Estado que mata: a falência da política de segurança pública do Governo Claudio Castro

A tragédia que ceifou a vida do jovem Herus, de apenas 15 anos, no Morro Santo Amaro, no último fim de semana, não é um acidente nem um caso isolado. É a síntese brutal de uma política de segurança pública fracassada, militarizada e racista, que escolheu tratar a juventude negra e pobre como inimiga a ser eliminada. O tiro que matou Herus durante a operação do Bope – que, segundo o próprio comandante da PM, não seguiu os protocolos da corporação – não partiu apenas da arma de um policial. Ele é disparado por uma engrenagem inteira de um Estado que insiste em responder à desigualdade com violência, à exclusão com repressão e à pobreza com morte.

O caso de Herus traz à memória outro assassinato igualmente revoltante: o de Kathlen Romeu, jovem negra, grávida, baleada em 2021 durante uma operação policial no Complexo do Lins. Kathlen, assim como Herus, são os alvos das operações de sempre, tem cor, tem endereço e tem classe. Sua morte, como tantas outras, ocorreu no contexto de mais uma ação irresponsável, que transforma as favelas do Rio em campos de extermínio. Passaram-se mais de três anos desde o crime, e a justiça continua a passos lentos, arrastada por um sistema que parece mais empenhado em proteger fardas do que em garantir responsabilização. A impunidade, nesses casos, não é uma exceção: é a regra.

É revelador que, diante de mais uma barbárie, a única resposta imediata do governador Cláudio Castro tenha sido o afastamento dos envolvidos. Um gesto protocolar, quase cínico, que serve mais para esfriar a indignação pública do que para promover qualquer transformação estrutural. Afastar os executores sem cobrar responsabilidade dos mandantes – e o governador é, politicamente, o primeiro deles – é perpetuar a lógica da impunidade. Não basta suspender alguns agentes: é preciso afastar Cláudio Castro do poder. Seu governo já se tornou símbolo de uma política de segurança genocida.

Não faltam exemplos. Desde que Castro assumiu, o Rio viu crescer o número de chacinas e a escalada da letalidade policial. Só em um ano de gestão, entre 2021 e 2022, houve 39 chacinas e 178 mortos, segundo estudo da Rede de Observatórios da Segurança. Em maio de 2021, a operação no Jacarezinho deixou 28 mortos, sendo a mais letal da história do estado. Em julho de 2022, na Vila Cruzeiro, outra ação policial resultou em 23 mortes. Em março de 2023, mais 13 pessoas foram mortas em uma operação em São João de Meriti. E agora, em 2025, Herus se soma a essa lista sangrenta. Quantos mais precisarão morrer até que essa lógica de guerra seja interrompida?

A resposta violenta do Estado ganha contornos ainda mais cruéis quando olhamos para os números. O orçamento da Segurança Pública do Rio em 2025 é de R$ 19,3 bilhões – atrás apenas da Previdência. São R$ 9 bilhões destinados à Polícia Militar, que, ao invés de proteger, transforma favelas em zonas de guerra. A Polícia Civil recebe outros R$ 3 bilhões. O investimento é massivo, mas os resultados são trágicos. A taxa de homicídios de jovens entre 15 e 29 anos no Rio foi de 45,1 por 100 mil habitantes em 2023 – mais que o dobro da média nacional, que é de 21,2. A juventude está morrendo, e o Estado está pagando caro por isso – caro em dinheiro público e, pior ainda, em vidas humanas.

O Rio de Janeiro não precisa de mais blindados, mais tiros nem mais operações fracassadas que ferem, matam e aterrorizam comunidades inteiras. Precisa de políticas públicas sérias, de prevenção, de oportunidades, de escuta e de respeito. Precisa de educação, cultura, emprego, lazer. Precisa, sobretudo, de um governo que não enxergue seus cidadãos como alvos.

A morte de Herus, assim como a de Kathlen, deveria ser um ponto de inflexão. Mas, sob Cláudio Castro, é apenas mais um capítulo de uma política que transforma segurança em carnificina. Um Estado que mata seus filhos, que se nega a fazer justiça e repete os mesmos erros com nomes diferentes, não merece governar. E enquanto não mudarmos esse modelo – e quem o sustenta – continuaremos contando mortos. E enterrando futuros.

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