O Fim da Escala 6×1: Uma Conquista Histórica para a Dignidade da Classe Trabalhadora

 

*Por Ana Paula Brito,
Vice-Presidenta do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro
e Secretária de Comunicação e Imprensa da CTB-RJ

Aqui está o trecho inserido no texto:

A luta por direitos trabalhistas no Brasil é marcada por avanços fundamentais ao longo de nossa história, em uma jornada de conquistas que moldaram o país que conhecemos hoje. Desde a Lei Áurea, que aboliu formalmente a escravidão, passando pela criação das férias remuneradas e da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), até a instituição do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e a regulamentação de uma jornada de trabalho mais digna, cada uma dessas vitórias representa um passo em direção à valorização e ao respeito à classe trabalhadora brasileira.

Hoje, a conquista do fim da escala 6×1 – que obriga o trabalhador a seis dias consecutivos de trabalho para, em seguida, ter direito a apenas um dia de descanso – se coloca como um marco emblemático, especialmente para categorias de trabalhadores que vivem na pele o desgaste dessa jornada. Esse avanço representa mais que uma mudança nas escalas: é um símbolo de respeito à saúde, ao bem-estar e à vida social de milhões de brasileiros.

A escala 6×1 impõe uma carga de trabalho que afeta diretamente a qualidade de vida do trabalhador. Trabalhar seis dias e ter apenas um de folga faz com que os profissionais enfrentem uma rotina desgastante, na qual falta tempo para o convívio familiar, para o lazer e até para cuidar de si mesmos. Não são poucos os relatos de trabalhadores que, após uma semana exaustiva, não conseguem aproveitar o único dia de folga porque precisam descansar e repor as energias para encarar mais uma jornada intensa. A vida social fica prejudicada, e o trabalhador se vê cada vez mais isolado de sua família, de seus amigos e de atividades culturais e recreativas que são fundamentais para o bem-estar emocional e psicológico.

Além das dificuldades no convívio social, a escala 6×1 também agrava problemas de saúde. Estudos indicam que jornadas intensas e com poucas pausas estão associadas a doenças como a hipertensão, a depressão, o estresse crônico e até problemas cardíacos. Sem descanso suficiente, o corpo não tem tempo para se recuperar dos esforços diários, e as consequências para a saúde a longo prazo podem ser devastadoras. Para o trabalhador, isso representa um ciclo de desgaste físico e mental que se reflete não apenas no desempenho no trabalho, mas também na sua própria dignidade.

É importante lembrar que a dignidade do trabalhador é uma questão de respeito aos direitos fundamentais. As conquistas históricas como a CLT, o FGTS e o limite para a jornada de trabalho foram passos fundamentais para garantir condições mais justas e humanizadas, mas há ainda muito pelo que lutar. Por isso, o fim da escala 6×1 não pode ser tratado como uma mera questão de convenções coletivas ou acordos temporários, como sugerido pelo Ministro do Trabalho, Luiz Marinho (PT). Um direito tão essencial, que implica a redução da carga de trabalho e a promoção da saúde e dignidade do trabalhador, precisa ser garantido pelo mais alto nível de proteção legal: uma emenda constitucional. Assim como outros marcos históricos, a jornada justa deve estar gravada na Constituição para assegurar que esse direito seja inalienável e resistente a mudanças de conjuntura. Somente com uma base constitucional sólida o trabalhador poderá confiar que esse avanço será duradouro e imune a retrocessos, assegurando o máximo de garantias e proteções para seu bem-estar.

Para a CTB-RJ e para o Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro, o fim dessa escala é um passo à frente na construção de um país que valoriza e respeita a classe trabalhadora. É um chamado para que continuemos unidos, lutando por condições justas de trabalho, com jornadas que permitam o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional e assegurem a saúde e o bem-estar de cada trabalhador.

As conquistas trabalhistas no Brasil, do passado ao presente, nos mostram que é possível avançar. Sigamos, então, com determinação, rumo a um futuro onde o trabalhador tenha sua dignidade respeitada em todas as suas dimensões, porque cada conquista é, antes de tudo, um direito de todos e todas.

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