- 17 de setembro de 2025
- Publicado por: Marcios Mauricio
- Categorias: Editoriais, Notícias CTB Nacional, Notícias CTB-RJ

Por Márcio Ayer, Presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro
Setembro chega e com ele ecoa um alerta que precisa ser lembrado todos os dias: o movimento de conscientização e prevenção ao suicídio. Falar sobre esse tema ainda é um tabu, um desafio que não podemos encarar sem olhar para a dura realidade vivida pelas pessoas. Porque no Brasil, qualquer conversa séria sobre saúde mental precisa andar de mãos dadas com uma discussão honesta sobre a exploração sofrida no dia a dia pela classe trabalhadora.
A maioria dos trabalhadores e trabalhadoras do comércio cumpre a escala 6×1 e sabe muito bem como o corpo e a mente sentem o peso das jornadas exaustivas. A rotina é sufocante, o tempo livre quase não existe, a convivência com a família fica em segundo plano, o lazer é um luxo e os cuidados com a saúde são deixados de lado. O resultado é o isolamento e um desgaste emocional que não dão trégua.
Estudo recente realizado pelo SECRJ e pelo Observatório do Estado Social Brasileiro ouviu mais de três mil pessoas, de quase 400 cidades, e mostrou de forma chocante como a escala 6×1 rouba tempo e saúde dos trabalhadores. Mais da metade dos entrevistados (52%) respondeu que teve suas folgas de domingo ou feriados trocadas no mês anterior à pesquisa. Isso não é apenas cansativo, é um ataque direto à vida familiar e ao convívio social.
Outros números assustam ainda mais. Um terço dos entrevistados (34%) relataram sofrer ameaças ou assédio moral dos seus supervisores; mais de um quarto (27%) precisaram apresentar atestados médicos no último mês; e um percentual significativo (21%) registraram atrasos devido à pura exaustão. Se queremos, de fato, cuidar da saúde mental, é preciso olhar para além dos fatores individuais. É fundamental exigir condições de trabalho mais humanas para todos, com jornadas justas, descanso e tempo para viver.
O filósofo francês Michel de Montaigne, admirador de Sócrates, destacava que o pensador grego “tinha encontrado tempo para aprender a dançar”. Ao dizer isso, defendia que devemos “trabalhar para viver, mas não viver para trabalhar”. No entanto, pouco mudou nesse sentido desde os tempos de Montaigne, na Idade Média, até os dias de hoje. Não fosse a luta incansável dos sindicatos, ainda estaríamos trabalhando sete dias por semana, 14 horas por dia, desde a infância, sem qualquer direito de aposentadoria. Houve avanços, é verdade, mas é preciso avançar muito mais, e o próximo passo nessa jornada é o fim da escala 6×1.
Para transformar o Setembro Amarelo em um momento de cuidado efetivo com a saúde física e mental da classe trabalhadora, nossa luta deve ser por condições de trabalho mais humanas, com horários justos, salários dignos e tempo para viver. A mobilização pela redução da jornada de trabalho sem corte de salário, com o fim da escala 6×1, não é um mero capricho, mas a continuação da luta histórica por dignidade e pelo direito a uma vida plena, dentro e fora do trabalho.