- 31 de maio de 2025
- Publicado por: José Medeiros
- Categorias: Negros e Negras, Notícias CTB Nacional, Notícias CTB-RJ

O VI Congresso da Central dos Trabalhadores e das Trabalhadoras do Brasil – Rio de Janeiro (CTB-RJ) foi marcado por fortes emoções e por um ato de profunda solidariedade e compromisso com a luta antirracista. Em um dos momentos mais simbólicos do evento, a Central prestou uma homenagem comovente à mãe de Moïse Kabagambe, jovem congolês brutalmente assassinado em janeiro de 2022, em um quiosque na Barra da Tijuca, enquanto reivindicava o pagamento de seus direitos trabalhistas.
Com olhos marejados e aplausos de pé por todo o plenário, a homenagem foi conduzida pela secretária-geral da CTB-RJ, Raimunda Leone, e pelo presidente do Sindicato dos Estivadores do Rio de Janeiro, Marcelo Lima. Dona Ivana Lay, mãe de Moïse, recebeu das mãos dos dirigentes uma placa simbólica e um banner com o rosto do filho e a inscrição “Vidas Negras Importam”, palavra de ordem que ecoou com força pelas vozes de todas e todos presentes.
“Nós da CTB pensamos e debatemos na nossa diretoria que este Congresso precisava prestar homenagens a trabalhadores que perderam a vida por conta da brutalidade de um sistema que oprime, que mata. Moïse foi um desses. Um jovem negro, imigrante, refugiado, que sonhava com dignidade. E por cobrar o que lhe era de direito, teve como resposta a própria morte”, afirmou Raimunda Leone, visivelmente emocionada.
A história de Moïse Kabagambe é símbolo das diversas camadas de opressão que recaem sobre os corpos negros, pobres, imigrantes e trabalhadores. Refugiado político, veio da República Democrática do Congo em 2014 com sua família, buscando escapar da guerra e da fome. No Brasil, encontraria outra face da violência: o racismo estrutural e a negação dos direitos básicos.
“Essa homenagem é à Dona Ivana e a todas as mães que perderam seus filhos vítimas da violência, do racismo e da impunidade. É um gesto simples, mas carregado de solidariedade, respeito e luta”, disse Marcelo Lima, antes de entregar a placa e pedir um minuto de aplausos em memória de Moïse e de tantos outros jovens negros assassinados no Brasil.
As palavras de Dona Ivana, ao receber a homenagem, tocaram o coração de todos:
“Fico muito triste. Mas também muito agradecida. Esse presente lindo que vocês me deram é pra ele, e é como se ele estivesse aqui. Só queria justiça. Sempre quis só justiça pro meu filho”, disse, emocionada.
Moïse tinha 24 anos e trabalhava por diárias em um quiosque na Barra. Foi morto após cobrar dois dias de pagamento atrasado. Câmeras de segurança registraram que ele foi espancado com pedaços de madeira e um taco de beisebol, sem oferecer resistência. Dois homens foram condenados pelo crime em março de 2025: Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, a 23 anos e 7 meses de prisão, e Fábio Pirineus da Silva, a 19 anos e 6 meses. Um terceiro acusado ainda aguarda julgamento.
O caso, que gerou revolta e mobilização social, é emblemático da violência racista que atravessa o cotidiano de milhares de trabalhadores e trabalhadoras negras no país. E, como destacou Raimunda Leone, “nos convoca à ação por um mundo mais justo, mais solidário e verdadeiramente humano”.
Com este gesto, a CTB-RJ reafirma seu compromisso inegociável com a luta por justiça social, contra o racismo estrutural e em defesa da vida. Porque para a classe trabalhadora, especialmente a negra, imigrante e periférica, cada ato de resistência é também um ato de amor e memória. E como bradou o Congresso: Vidas Negras Importam!