Paulo Sérgio Farias: Independência para Classe Trabalhadora

O 7 de Setembro, dia da “independência”, curiosamente, é a data cívica mais comemorada no Brasil. Uma data que remete a quando nosso país rompeu laços coloniais com Portugal, mas ao invés de se transformar em uma República, como todas as nações latino-americanas quando de suas independências, o Brasil fez uma opção por uma monarquia, inaugurando o período histórico chamado Brasil Império, e que colocou a “nação independente” sob a governança de um monarca português, D. Pedro I. Monarca que, inclusive, não hesitou em abandonar o Império do Brasil para disputar a coroa lusitana, deixando o governo nas mãos de seu filho, D. Pedro II, que tinha apenas 5 anos de idade. 

Não vamos nos aprofundar na questão historiográfica sobre o Brasil Império, vamos nos ater ao significado da “independência”, data tão comemorada em nosso país. A Independência é um dos grandes fatos históricos da nossa história, isso é inegável, mas suas contradições estão por todos os lados. Um marco histórico que possui um Hino em sua honra, até hoje cantado em escolas militares na “Semana da Pátria”, que “já raiou a liberdade no horizonte do Brasil” e brada em seu refrão “ou ficar a Pátria Livre, ou morrer pelo Brasil”.

Que liberdade foi conquistada com a independência? No campo da política, apesar do fim dos quadros de ferro do pacto colonial e da não necessidade de se submeter aos interesses da coroa portuguesa, nosso país passou a ser governado pelo herdeiro da coroa da antiga metrópole. Na economia, nossa dependência  era imensa, visto que para ser reconhecido como nação independente, o Brasil teve que quitar “dívidas do período colonial com Portugal” e ficou dependente dos empréstimos e refém dos interesses da Inglaterra. No campo social, a liberdade não chegou aos negros e às negras escravizados, que seguiram refém de toda violência do escravismo enquanto os indígenas seguiram perseguidos pelo Império nascente. Liberdade, definitivamente, é algo que não houve com a Independência do Brasil.

O Hino fala ainda em morrer pelo Brasil, pela liberdade do Império Nascente em uma clara tentativa de reescrever a história, pois as revoltas populares que lutaram pela nossa real independência e emancipação do povo brasileiro foram sufocadas com toda violência pelos mesmos setores que seguiam governando o país. As cores da bandeira do Império eram uma homenagem à famílias das tradicionais monarquias européias, o verde da família Bragança de D. Pedro, o amarelo da família Habsburgo da Imperatriz Leopoldina. É estranho pensar que, com todas essas contradições, e aqui tratamos apenas de pontos superficiais, essa data é muito mais festejada no país que a República, proclamada 67 anos depois.

O 7 de Setembro de 2023, no entanto, consiste numa oportunidade para o povo brasileiro ressignificar a sua tão contraditória independência. Ele ocorre exatamente um ano após o discurso golpista do ex-presidente Jair Bolsonaro na “festa da independência” do ano passado. Um discurso que deixou claro à nação e ao mundo como um todo as movimentação golpista do ex-presidente genocida. O dia da independência de 2023 ocorre após nosso povo ter derrotado o fascismo e o golpismo nas urnas em 30 de outubro e nossas instituições terem se mostrado fortes e derrotado a tentativa de golpe ocorrida em 8 de Janeiro, nos primeiros dias do Governo Lula. 

Desde então, com uma Polícia Federal independente e as instituições voltando ao seu funcionamento democrático, inúmeras provas de corrupção, aparvalhamento do estado e de ações não republicanas foram divulgadas revelando a verdadeira face dos golpistas que destruíram direitos, devastaram nosso meio-ambiente, se apossaram e venderam os patrimônios nacionais enquanto nosso país voltava ao mapa da fome. Um processo de destruição de tudo que foi construído pelos governos progressistas que se iniciou com o golpe contra a Presidenta Dilma e nefastas reformas trabalhista e previdenciária.

Hoje, 7 de Setembro, é dia do povo brasileiro se levantar para decretar o fim das falsas independências. Chegou a hora de assumirmos o papel que é nosso por direito, ocupar nosso papel de protagonistas da nação e decretar  a independência da classe trabalhadora! É tempo de nos organizarmos junto com nossos sindicatos, nas associações de moradores, organizar as pautas da classe trabalhadora, do povo pobre e das favelas e periferias para unidos, pressionar nossos governantes de todas as esferas para conquistar direitos e recuperar tudo que perdemos nos últimos anos. Elegemos, no ano passado, um governo que se comprometeu com nossas pautas e sabemos que ele só irá avançar tanto quanto fortes fizermos ecoar nossa voz. É tempo de ocupar redes e ruas, de erguer nossas bandeiras e mostrar que os trabalhadores e trabalhadoras vão participar ativamente da vida pública e lutar por um Brasil soberano, igualitário, justo e democrático.

O momento é propício! Recentemente, conquistamos uma grande vitória no plano da justiça. O Supremo Tribunal Federal (STF), após muita pressão das entidades de classe e muitos debates, formou maioria para rever sua posição e reconhecer a legalidade e a importância da contribuição assistencial. O placar de 6 a 0 da votação – ainda em curso – é irreversível e reconhece que toda a categoria é beneficiada pelas convenções e acordos coletivos celebrados pelas entidades de classe, sendo portanto justo que todos trabalhadores e trabalhadoras contribuam para o financiamento da ação sindical. Esse é um primeiro passo para reestruturar nossas entidades. Com entidades fortes e estruturadas temos o dever de organizar a classe trabalhadora para, juntos, construirmos o Brasil dos nossos sonhos. 

Hoje, a CTB Rio de Janeiro está nas ruas construindo, junto com diversas outras entidades e movimentos, mais uma edição do tradicional Grito dos Excluídos e das Excluídas. Tomamos as ruas com fome de democracia e sede de justiça! Não aceitaremos nenhuma anistia para golpistas, vamos sepultar de vez as fake news e o negacionismo que tantas vidas nos tirou. Vamos lutar pelo povo preto livre e vivo, empoderado, ocupando espaços e participando da vida pública. Por favelas e periferias em paz, para que possamos dar esperança e futuro para nossa juventude! Lutaremos incansavelmente por mais mulheres na política, na justiça, em cargos de chefia e seremos implacáveis no combate ao machismo e a misoginia. Vamos tomar as ruas, ocupar as praças, exigir do Governo do Estado a retomada do setor naval e uma política que desenvolva e fortaleça a indústria fluminense para que o Rio de Janeiro cresça, gere bons empregos, reduza as desigualdades e não se limite a um estado dominado pelo setor de serviços.

É hora de construir a nossa independência, de organizarmos os trabalhadores e trabalhadoras para tomar assento em todos os espaços, de debater todos os assuntos, de disputar os rumos do país. As Centrais Sindicais e os Sindicatos vão tomar as ruas, ocupar os bairros e reconstruir o Brasil com a força de uma classe trabalhadora verdadeiramente livre, unida, fortalecida e emancipada!

Que esse 7 setembro seja o pontapé inicial para a nossa independência, para que façamos os três poderes, em todas as esferas, lembrarem que o poder emana do povo e reconhecerem que as organizações classistas, os gritos dos excluídos, e as vozes das favelas e periferias são os pilares da nossa nação, são o verdadeiro som da democracia.

*Artigo de Paulo Sérgio Farias, Presidente da CTB Rio de Janeiro

Compartilhe este post


Precisa de ajuda?
Scan the code