Em defesa do MST e da reforma agrária

A luta pela reforma agrária e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) estão sendo alvos de uma torpe ofensiva dos latifundiários brasileiros. Parlamentares de extrema direita, direta ou indiretamente associados aos grandes fazendeiros do chamado angronegócio, estão manipulando a CPI do MST, que foi instalada na Câmera Federal dia 17 de maio sem um objeto definido, mas com o indisfarçável propósito de criminalizar e paralisar o movimento e a batalha histórica dos trabalhadores e trabalhadoras rurais pela reforma agrária.

Não é a primeira vez que representantes do latifúndio no Parlamento, abrigados na chamada bancada ruralista, investem contra o MST e a luta camponesa. Trata-se da 5º CPI em 18 anos que tem o movimento por alvo. É um circo armado pela direita extremista para calar os que clamam e lutam por justiça no campo e ao mesmo tempo encobrir os crimes praticados diariamente pela grande burguesia rural.

Somente neste ano 918 vítimas de trabalho escravo foram resgatados no Brasil. O crime hediondo, praticado principalmente por latifundiários e empresários inescrupulosos, devia ser objeto de investigações mais profundas, mas os parlamentares em questão não estão preocupados com isto e não querem saber de punição para este tipo de criminosos, que violentam a dignidade e a vida de outros seres humanos, mas são poderosos e têm o privilégio da impunidade.

O Parlamento também deveria dar maior atenção à elevação alarmante dos conflitos no campo, cujas vítimas em geral são camponeses sem terra e líderes da luta pela reforma agrária, além de membros das comunidades indígenas.

Informações da Comissão Pastoral da Terra (CPT) revelam um aumento assustador no número de assassinatos (+30,55%), ameaças de morte (+43,05%) e tentativas de assassinato (+272,72%) no ano passado em relação aos registrados pela CPT em 2021. Em 2022, foram 47 assassinatos em situações de conflito no campo, 206 ameaças de morte e 123 tentativas de assassinatos – o maior registro deste tipo de violência em todo o século 21.  Além do alto número de assassinatos, os conflitos por terra no Brasil aumentaram 16,7% em relação a 2021.

A biografia dos protagonistas da CPI é emblemática. Seu presidente, deputado Luciano Lorenzini Zucco (Republicanos RS), está sendo investigado por participação na empreitada golpista de 8 de janeiro. Já o relator, deputado Ricardo Salles (PL-SP), ex-ministro do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro, é investigado por favorecer madeireiros e obstruir inquéritos por crime ambiental. Ligado ao latifúndio, ele já defendeu publicamente tratar sem-terra à bala.

A Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), manifesta vigoroso repúdio à ofensiva raivosa dos latifundiários e da extrema direita contra a luta pela reforma agrária e reitera sua total solidariedade ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), bem como às organizações e lideranças que vêm sendo perseguidas no bojo desta enganosa CPI, uma cortina de fumaça para encobrir a verdade sobre os crimes em alta no campo e a responsabilidade do latifúndio.

Cabe ainda acrescentar que, além de levantar com força a bandeira histórica da reforma agrária, o MST desempenha um proeminente papel para a soberania alimentar em nosso país e na luta contra a fome, destacando-se e sendo reconhecido e respeitado internacionalmente como maior produtor de arroz orgânico da América Latina, posição que ocupa há 10 anos.

Adilson Araújo, presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil).

 

Créditos da Foto: O Tempo (MG)

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